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Leite sem Lactose

Leite sem Lactose

Artigo escrito por Dra. Maribel Melos – Nutricionista.

 Produtos Lac Free, leite sem Lactose, Requeijão Lac Free, Sorvetes e Iogurtes sem Lactose invadiram as prateleiras dos supermercados nos últimos tempos. Será que o consumo destes produtos atendem às nossas necessidades? Eles podem comprometer nossa saúde?

 

Existem diferenças entre intolerância a lactose e alergia a proteína do leite, enquanto a primeira tem relação com falta de uma enzima, a segunda pode ser ocasionada pelo sistema de defesa do nosso corpo contra o alimento.

O Leite é um alimento completo, pois seu objetivo é fornecer ao bebê, nutrientes adequados para seu crescimento e desenvolvimento. Contém cerca de 86% de água. Está constituído por mistura de várias substâncias como lactose, proteínas como caseína, lactoalbumina e lactoglobulina,  gorduras, vitaminas e minerais.

A lactose é a parte doce do leite, representa 29% das calorias totais do leite. Esta substância para ser digerida pelo organismo necessita de uma enzima chamada LACTASE, que é produzida no intestino delgado. Quando a produção desta enzima é deficiente ou inexistente, chamamos de INTOLERANCIA A LACTOSE.  Sem a enzima, ocorre a fermentação da lactose, causando sintomas como formação de gases, cólicas, estufamento, dores intestinais, mau hálito e até diarréia, porém, não há intermediação do sistema imunológico. Portanto, não existe “alergia à lactose” e sim intolerância à lactose. Existem diferentes graus de intolerância a lactose, pois algumas pessoas produzem pouca enzima e, portanto, toleram alguns alimentos com lactose, já outras pessoas não tem a enzima e são completamente intolerantes a lactose. Neste caso o uso da enzima LACTASE na forma de cápsulas facilita a vida de quem precisa ou deseja comer algum alimento preparado com leite.

Mas, como já citado, o leite de vaca contem ainda proteínas, sendo estas responsáveis por sintomas relacionados a alergia alimentar.

Entendendo a alergia alimentar:  é a denominação utilizada para as Reações Adversas aos Alimentos (RAA) não tóxicas, que envolvem mecanismos  imunológicos, resultando em grande variabilidade de manifestações clínicas.

Os principais alimentos alergênicos são os que possuem proteínas de difícil digestão: leite de vaca, leite de cabra, soja, trigo (glúten), ovo, amendoim, oleaginosas, peixes e frutos do mar. Porém, considerando a individualidade bioquímica, as sensibilidades alimentares podem acontecer com qualquer alimento, dependendo das características únicas do indivíduo.

A parede intestinal é responsável por selecionar a entrada dos nutrientes no organismo para que sejam utilizados pelas células. Para isso, os alimentos precisam passar por todos os processos de digestão para liberarem estes nutrientes. . É por isso que temos um enorme tubo digestório (só o intestino delgado tem aproximadamente 7 metros), para só após todo o processo digestivo ser completado, os nutrientes entrarem em contato com o sangue.

Caso o alimento seja mal digerido, ele pode atravessar a parede intestinal e acarretar uma resposta imunológica contra o alimento. Nosso sistema de defesa tolera que  alguns alimentos  ultrapassem esta parede, mas caso a passagem de alimentos for excessiva, se inicia um processo de reação denominada sensibilidade alimentar ou alergia.

Quando se pensa em alergia, lembramos das pessoas que passam mal quando comem camarão e ficam com manchas vermelhas ou até mesmo sentem falta de ar. Isso ocorre quando a alergia é do tipo imediata (mediada por IgE) que ocorrem de segundos até 2 horas após contato com o alimento. Mas existem as sensibilidades mais brandas, chamadas de tardia (mediadas por IgG), que podem aparecer de 2 a 72h após o consumo do alimento. Estas podem causar diversos sintomas crônicos como:  otite, amidalite, bronquite, rinite, sinusite, esofagite de refluxo, gastrite, colite, cistite, celulite, enxaqueca, olheiras, dores musculares e articulares, ansiedade, irritabilidade, alterações de humor, agitação, distúrbios de concentração, distúrbios de aprendizagem, depressão, compulsividade, resistência à insulina, entre outros. Para um alimento desencadear processos inflamatórios por intermediação de IgG, o mesmo deve ser consumido frequentemente.

Há poucas décadas, o consumo do leite fazia parte da alimentação das pessoas em pequena quantidade (aproximadamente um copo por dia). Não existia essa enormidade de produtos industrializados e a alimentação era mais natural e rica em nutrientes, além de ser valorizada e priorizada, com muito menos estresse físico, mental e emocional, havendo um equilíbrio orgânico muito maior que possibilitava ao organismo se defender de substâncias estranhas a ele.

Logo, se comermos uma proteína que é mal digerida, várias vezes ao dia podemos desencadear respostas alérgicas a ela.

As principais proteínas do leite são caseína, beta lactoglobulina e beta lactoalbumina, sendo estas as responsáveis por sintomas de alergia ou sensibilidade alimentar.
Os produtos sem lactose que a indústria está despejando nas lojas e mercados vem atender ao público que tem intolerância a lactose, pois são produtos a base de leite em que a enzima lactase é adicionada.

Como esta enzima tem baixa durabilidade, são necessários acrescentar estabilizantes que em sua maioria são a base de sódio. Por exemplo há produtos no mercado como leite sem lactose com 4 estabilizantes a base de sódio – trifosfato de sódio, difosfato de sódio, citrato de sódio. O consumidor utiliza este produto para manter o hábito alimentar arraigado e por acreditar que desta forma o consumo de cálcio está garantido, porém o sódio e o cálcio competem pelo mesmo sítio no intestino, logo estes estabilizantes podem interferir na sua absorção. Mas já é sabido que o cálcio do leite não é a única, nem a melhor forma de se absorver o nutriente. A couve tem o cálcio mais disponível para absorção, bem como outras fontes vegetais como gergelim, feijões, amêndoas, aveia, entre outros.

Sendo assim, se já percebeu que o consumo de lácteos, causa desconforto gástrico, rinite, conjuntivite ou enxaqueca muito provavelmente usar produtos sem lactose não irá lhe trazer benefícios nutricionais. O mais adequado é ter uma dieta variada em que substitua o leite de vaca por bebidas de origem vegetal como amêndoas, coco, castanhas, aveia, girassol, quinua e arroz. Estas bebidas fornecem nutrientes diversos e contribuem para uma boa nutrição.

Talvez a resposta para a longevidade com a qualidade de vida esteja em hábitos alimentares com menos produtos industrializados e aditivos químicos, e o retorno ao consumo de alimentos mais saudáveis, dados de presente pela “mãe” natureza, incluindo o consumo de leite de vaca, porém em quantidades equilibradas para cada um, respeitando a nossa capacidade de defesa e uma individualidade bioquímica, na qual as pessoas lidam de maneira diferente com os mesmos alimentos.

Para adequação de cálcio, o importante é adotar um consumo regular de legumes, verduras, frutas, leguminosas, gergelim (que precisa ser triturado), sementes trituradas (melão, abóbora, girassol, melancia), quinua, com a vantagem de esses alimentos serem ricos em todos os minerais, vitaminas e fitoquímicos necessários à boa absorção e utilização dos mesmos no organismo.